Muito além da Educação
- christiana araripe
- 17 de jul. de 2024
- 9 min de leitura
Atualizado: 31 de jul. de 2024
O fortalecimento das competências socioemocionais dos estudantes, por meio da Educação Emocional é cada vez mais relevante em um mundo em constante mudança. Nos próximos 15 anos, as crianças enfrentarão desafios similares aos que a humanidade experimentou no último século.
Dominar conteúdos e técnicas é importante, porém, as habilidades socioemocionais são necessárias para enfrentar os desafios do século 21, em um sentido mais humano.
A educação socioemocional oferece oportunidades de desenvolvimento e fortalecimento das dimensões cognitiva, social e afetiva dos estudantes, em contextos diversos, corroborando com um modo mais harmonizado de estar na vida.
Estudos recentes mostram que quando crianças e adolescentes são expostas a intervenções que desenvolvem as habilidades socioemocionais, não somente é percebida uma melhora em seu comportamento e em seus relacionamentos sociais, mas também em sua estrutura cerebral, o que irá se refletir em seu desenvolvimento acadêmico.

Izabella Saback, pedagoga e psicopedagoga atua há mais de 30 anos no campo da Educação Escolar, em Feira de Santana, Bahia.
A pedagogia como campo de atuação possibilitou a realização do sonho de poder trabalhar na escola, educando e desenvolvendo crianças e adolescentes. Sempre acreditei em uma escola que oferecesse oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento por meio de um modelo construtivo e participativo. Já a psicopedagogia veio depois, a partir de outro cenário, agora, para entender o motivo da não aprendizagem de crianças as quais trabalhei, sendo estas, inseridas em contextos com as mesmas oportunidades. Além disso, a inclusão sempre foi uma pauta relevante para mim, haja vista a consciência profissional de que a aprendizagem é um potencial humano e que cada um tem um jeito de aprender, logo entregar essas oportunidades a todos que me procuram, é uma satisfação.

A pedagoga e psicopedagoga Izabella Saback
Seguindo nessa visão inclusivista a profissional estende seus atendimentos na Clínica de Psicopedagógica mediando dificuldades acadêmicas e estruturais (transtornos) dos estudantes.
Recentemente, contribuiu com um capítulo de um livro sobre: A “Convivência Ética na Educação: construindo caminhos para um mundo mais humano e justo”, pela Editora BOC, e neste capítulo, sensibiliza docentes a pensarem este trabalho desde a Educação Infantil, discorrendo sobre a importância do desenvolvimento da comunicação assertiva, já na primeira infância.
Na clínica esse objeto de estudo favorece minhas intervenções junto aos quesitos da convivência na escola trazidos pelas crianças e adolescentes – casos de bullying, por exemplo, em que por motivos diversos acontecem. Nestes casos, atuo na prevenção notificando a família dos riscos ou ainda, apoiando na resolução. Outros conflitos recorrentes no tópico da convivência, são os conflitos que geram exclusões. Nesses casos, também são dadas orientações que oportunizem a tomada de consciência dos envolvidos, tendo os problemas resolvidos.
A trajetória de mais de 13 anos como Coordenadora Pedagógica/Orientadora Educacional em Instituições Educativas, serve de fonte para sua função de Formadora de Professores, além de estar Mestranda em Educação no programa de pós-graduação da UEFS-Ba, no campo da Educação Matemática para primeira infância, um modo de tornar o contato com este componente curricular consequente, leve e divertido. Toda essa bagagem de conhecimento, somada aos sonhos que Izabella ainda pretende realizar, estão entre os grandes feitos, a idealização do Projeto Casa na Árvore, onde desenvolve estudos nos campos do brincar livre na natureza, como caminho de saúde e desenvolvimento para o público infantojuvenil.

Um pouco mais da incrível jornada de Izabella Saback, em prol da qualidade da Educação, na entrevista a seguir.
Qual o maior orgulho que sente da profissão?
Poder apoiar os estudantes e suas famílias em dificuldades e incompreensões sobre o processo de aprendizagem, estimulando-os a superá-las. Cada criança ou família que ajudo integra sentido ao meu fazer profissional. É como se ali concretizasse o meu propósito de vida.
Como funcionam suas sessões e abordagens?
O protocolo de atendimento cumpre um passo a passo: após o contato da família, marco uma sessão, a qual chamo de sessão exploratória. Neste encontro construímos o motivo da procura, inclusive, o que sabem sobre a psicopedagogia e como ela pode ajudar. Depois, seguimos com outros 7 atendimentos com o cliente, análise das atividades escolares, visitação a escola e devolutiva para a família. Ao total são 10 sessões para a etapa 01 – a da avaliação. Após a devolução aos responsáveis, os encaminhamentos são definidos e, então, decidimos se é o caso de seguirmos com a etapa 02 – das intervenções e se outros profissionais devem ser indicados.
Para as sessões, me baseio, prioritariamente, nas abordagens humanistas centradas no cliente, cujo o principal movimento é seguir as informações trazidas por eles para os encontros. Para tanto, protocolos existem e são eficazes, tendo em vista a natureza científica que os justificam, porém, cada SER HUMANO é único, digno de uma abordagem que lhes seja também peculiar. Neste sentido, uso todos os recursos que parecem necessários ao caso, não por ritual terapêutico, mas pela rota do caso. Outro aspecto da minha abordagem é a visão sistêmica – neste caso, olho para o sistema do avaliando com muito carinho. De que lugar vem esse menino ou menina? Inclusive a escola. Qual o estilo parental dessa família? Quais as crenças sobre aprendizagem? Qual a concepção de ensino que defendem? E, portanto, qual a escola que definiram para matricular sua criança ou adolescente? Outros aspectos, também! Como lidam com as características do desenvolvimento de cada faixa etária? Sua história antes do nascimento – fase gestacional e após o nascimento, levando em conta eventos e os marcos do desenvolvimento. Como entendem o papel da escola, da cultura e do conhecimento na promoção humana. Até aqui, posso afirmar um modelo Humanista e Sistêmico, centrado no indivíduo em sua condição biológica, afetiva, cognitiva e social, ou seja, uma visão holística.
As sessões tem um modo operante, baseado em várias ferramentas, como já mencionei, incluindo práticas de respiração, brincar livre e dirigido, jogos, provas operatórias, pedagógicas, testes(quando necessário e possível para o avaliando), livre conversação e protocolos baseados nos resultados da avaliação, além de contato com elementos da natureza. Estes todos, advindos da larga literatura que estuda o desenvolvimento humano em sua multidimensionalidade. Algo que não abro mão hoje é tomar contato com o estilo de vida dos clientes em atendimento, tais como hidratação, sono, nutrição, atividade física, lazer e contato com a natureza.
Em caso de crianças atípicas todo o protocolo está mantido, somados aos estudos advindos das neurociências, e demais áreas da saúde - afins ao desenvolvimento integral do cliente, como protocolo multidisciplinar. Por aqui, acompanhamos crianças e adolescentes com sugestões de transtornos da aprendizagem ou com diagnósticos fechados para os tais, a fim de darmos continuidade ao tratamento por meio de intervenções específicas, além de outras necessidades como construção de rotinas de estudo, fortalecimento de estratégias de aprendizagem e atenção aos transtornos do neurodesenvolvimento, como já mencionado.

Quais transformações que o seu trabalho já impactou na vida das pessoas?
Dos meus resultados fico feliz de já ter acompanhado pelo menos duas ou três gerações de estudantes/clientes com a atuação pedagógica nas escolas e algumas outras na clínica psicopedagógica. Vê-los em conquista de seus sonhos e outros tantos, tendo superado dificuldades com alguma participação minha, como disse, me deixa feliz.
De escolares a seres humanos atuantes na sociedade, em diferentes segmentos. Não raro, encontro esses meninos e meninas atuando na vida. Outro dia, fiz um exame de carótidas com uma ex aluna de uma escola que coordenava, de outra feita fui cuidada por uma fisioterapeuta que foi minha aluna, uma garota que passou um ano sem se comunicar verbalmente comigo e os colegas, surpreendendo-nos ao final do ano! Foi lindoooooo! Lembro-me como hoje como foi bom compreendê-la e aguardar sua participação verbal nas aulas; e uma garota de 08 anos, na época - meu primeiro caso com dislexia, ainda como professora, hoje uma mamãe de plantão, enfermeira linda. Na época, intuí como ajudá-la, quando pouco se falava de dislexia nas escolas e deu certo, até que fui ao encontro da psicopedagogia. São inúmeros os relatos, incluindo, os que aprenderam sem seguir o mode operande da escola convencional.
Qual a importância do desenvolvimento da inteligência emocional no ser humano?
Essa pergunta é especial, ela fala de um objeto de estudo ao qual me dedico há pelo menos uns 10 anos. Mas, por uma via, eu diria, mais profunda. Em 2006 encontrei os estudos da Professora Drª Telma Vinha, da UNICAMP que discorriam sobre o desenvolvimento da Moralidade Infantil a partir da teoria piagetiana. Jean Piaget um dos precursores dos estudos de como se dá a formação do juízo moral na infância.
Esses estudos chamaram minha atenção, exatamente porque discorria sobre uma escola que além de ensinar conteúdos, promovia desenvolvimento humano e a autonomia moral, baseado nos valores e virtudes desejáveis a uma personalidade ética. Mais à frente, um novo contato, agora com a professora Professora Dr.ª Luciene Tognetta, UNESP estudando a partir da mesma abordagem teórica a formação da personalidade ética na escola. Produções incríveis e cheias de sentido para uma sociedade que não entende que valores e virtudes são objetos de ensino, logo conteúdos escolares. São como posso dizer um modo de emancipar um ser humano ao que lhe é peculiar - ser GENTE. E ser gente do bem. Uma ideia de como temos discutido no meio holístico – acolher o que é humano, melhorando por decisão. Com tais estudos, encontrei a psicologia moral, uma vertente que nos orienta a pensar o SER HUMANO a partir das suas disposições afetivas, defendendo que os valores e as virtudes sejam desenvolvidos em cada um de nós. Foi então, que apaixonada pelo conteúdo, ingressei em um grupo de estudos em São Paulo – na UNESP/UNICAMP – O Grupo de Pesquisas e Estudos em Educação Moral – cujas pautas estavam direcionadas ao tema. Alguns anos no presencial – uma vez por mês lá e hoje, on-line (benefícios da pandemia).
O que se pode concluir desses estudos de mais importante para nossa pauta aqui e meu trabalho na clínica e na escola é que a convivência é um dos maiores desafios humanos, ainda que sendo do humano, a condição mais real. O que para tanto, precisamos de valores e virtudes bem definidas. O que chamamos do que é universalmente desejável.
Então, mais do que emocionalmente equilibrados, carecemos de uma moral forte como reguladora de nossas ações. Nesse ponto, os objetos de ensino se encontram em três dimensões complementares – as socioemocionais, as sociomorais e os avanços para formação de uma personalidade ética – que agora, pode decidir por si, a partir de si mas levando o outro em consideração. Como nos diria um estudioso dos tema – Paul Ricoeur, “visar a verdadeira vida com e para o outro em instituições justas”. – nesta citação, o papel da escola – como lugar de promoção de personalidades éticas por meio de práticas que concretizem a aproximação e experiências com a lida com os valores e virtudes no cotidiano, a exemplo da solidariedade, generosidade, justiça, convivência democrática, respeito, empatia... Mas como?
Eu atuo com este conteúdo em duas escolas – em uma sou professora de EDUCAÇÃO EMOCIONAL (Colégio Nobre) e em outra nas aulas de OE – ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (Colégio Despertar). Em ambas, desenvolvemos temas correlatos a convivência; em rodas de conversa ou nas assembleias de classe. Usamos jogos, literaturas, filmes, curtas metragens, narrativas morais, dilemas e outros. Todos esses recursos, como oportunidades organizadas para que os garotos e garotas falem sobre o que sentem e percebem sobre si, as relações que estabelecem e o modo como as instituições se organizam – as regras, por exemplo. Já nos primeiros encontros é incrível ouvir o quanto validam as aulas, tendo em vista o principal direito: “expressar-se”.
Para cada uma dessas experiências protocolos combinados são definidos, por isso, a aprendizagem do respeito. Nas assembleias, por exemplo, temos que ter pautas e estas passam pelo crivo das regras – fala de fatos, não de pessoas, devem ser tratadas em uma dimensão coletiva.
Há 30 anos estou na Educação e somados aos anos, momentos de muito estudo e engajamento, contudo, tenho que vivemos uma nova era, um novo modo de viver em sociedade e se relacionar com o planeta, por isso uma nova escola faz-se necessária – um lugar para aprender a SER. Um lugar para aprender a conviver, como já postulado em leis e diretrizes que legalizam as práticas educacionais em nosso país. Que possamos avançar das letras e fazer acontecer. Hoje, no Mestrado em Educação, estudando a partir da sociologia da educação a escola que temos, estou mais convicta – somente a igualdade de direitos salvaria esta sociedade, não sendo esta a realidade, por motivos que já conhecemos, façamos de cada escola um lugar de humanização e, esta, certamente, virá se trouxermos a luz o que faz de nós tão humanos – a capacidade de pensar, sentir e agir, logo de conviver.

O união dos três pilares fundamentais para aprofundamento do campo da moralidade humana - aspectos socioemocionais, sociomorais e a formação de personalidades éticas, são levados ao grande público por meio de suas palestras ministradas por todo o Brasil
O Projeto “Diálogos na Escola”, pensado de forma amorosa, consciente e fundamentada se destina aos que desejam uma comunicação assertiva e transformadora em sua escola com a equipe pedagógica, bem como famílias.
Alguns dos TEMAS já desenvolvidos e em oferta no portfólio 2024 organizado por Izabella.
O valor do diálogo entre professores e estudantes: por uma comunicação baseada na assertividade.
Planejar-se para SER o professor(a) - que se encanta e encanta: a hora e a vez das escolas para a infância.
Repensando a Educação em Valores, em meio à uma crise de valores: mas, o quê e de quais valores estamos falando?
Educação Emocional: o que preciso saber para ajudar meus filhos(as) ou estudantes na lida com suas emoções.
A Convivência Ética na Instituição Educativa: por onde começar?
O ambiente sociomoral cooperativo como fator de soma ao ensino e à aprendizagem escolar: como organizar esse espaço?
O brincar natural: a natureza como espaço vivo, criativo e do inédito.
A convivência ética na escola infantil: linguagens de quem está aprendendo a conviver.

Contatos
@projeto_casa_da_arvore
@psico.izabellasaback
75 98245-0437
*e entrega pro mundo.
Uma excelente profissional, madura e extremamente amante e amorosa com o que faz se tarefa pro mundo!!! Parabéns Izabella e Chris pela bela mensagem e reportagem!🩷
Pura admiração.